A queda de um mito
- ciavozdaterra
- 18 de jul. de 2023
- 2 min de leitura

Em 06 de Julho de 2023, José Celso Martinêz Correa partiu do plano dos homens para o plano dos deuses, vítima de um incêndio no apartamento onde morava.
Referência do teatro no Brasil, o extraordinário Zé, como era chamado, deixou nesta modalidade artística, um vazio sem fim. O deus Dioniso - imagem mitológica emblemática na vida do artífice, o acolheu em meio a danças, tambores, tirsos e gritos dos adeptos de seu cortejo. Na alvorada humana, ele provocou, com sua partida, um hiato outrora preenchido por significativos espetáculos báquicos. Na alvorada sagrada, entregou-se, abrupta e inesperadamente, ao sol, astro-rei que tanto reverenciava.
O fogo, como figura arquetípica, sempre acompanhou o trilhar dos caminhos de Zé Celso. Na manhã de 31 de Maio de 1966, enfrentou, por conta de um curto-circuito no teto, o bárbaro incêndio de seu Teatro Oficina, hoje renomeado Teatro Uzyna Uzona. Zé Celso transgressor, espalhou, ao longo dos anos, a culpa pela tragédia, aos militares que perseguiam seu anárquico grupo de teatro. Nada restou do local. O artista, viveu um destino de martírio, foi preso e torturado por agentes da ditadura que regia o país à época, o que o obrigou a passar quatro anos exilado em Portugal.
O falecimento do diretor, motivado por elemento ígneo, coincide com o título de seu método e com a característica primordial de sua personalidade, aparentemente insana: o dionisismo.
O deus fantasmagórico Dioniso, filho de Zeus (deus maior do panteão grego) e de Sêmele (deusa da natureza), morreu no parto, vítima dos artifícios cruéis da esposa legítima de Zeus: Hera - obsessiva e ciumenta. Esta, extasiada de ódio, incinerou a jovem e bela Sêmele, que morreu barbaramente queimada. Dioniso foi salvo pelo pai, que o resgatou costurando-o em uma de suas coxas, trazendo-o à vida, posteriormente. Daí justificar-se os dois nascimentos do deus.
Seja por arquétipo, mitologia ou inconsciente coletivo, Dioniso: deus dos ciclos vitais, das festas, dos gritos loucos, do vinho, do frenesi, do delírio, da mania, do tresvario, das florestas e do teatro, orquestrou o fogo das paixões em José Celso Martinêz Correa, nesta e em outras existências.
Saudade Para Sempre!
Marlene Fortuna
Cia Teatral Voz da Terra
Divulgação Agência Brasil - Garapa Coletivo/Wikimedia Common
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