A ROCHA E O OCEANO - 5 º Lugar Juvenil no XI Concurso de Contos Henrique José de Souza
- ciavozdaterra
- 25 de out. de 2024
- 3 min de leitura

Por:
Raysa Kerolaine Afonso Mateus
A ROCHA E O OCEANO
Era uma noite de inverno rigoroso em Toronto no Canadá, o rapaz tomava uma xícara de chocolate quente, enquanto observava pelo vidro do bar as pessoas que passavam do outro lado, sem que percebesse, lágrimas escorriam do seu rosto, quando lembranças de que costumavam fazer isso juntos invadiram sua mente. Há alguns meses sua mãe tinha descoberto um câncer e num piscar de olhos estava internada na área de tratamento intensivo do hospital. Secou suas lágrimas e logo foi para casa, precisava descansar, seria um longo dia. Não muito longe dali três pessoas sentadas numa mesa de jantar comiam em total silêncio, só se escutava o barulho dos talheres batendo nos pratos, era assim, todos presos em sua própria bolha, desde que a filha mais velha da família, cheia de vida e alegria, estava imóvel numa cama, respirando com ajuda de aparelhos conectados ao seu corpo, sem dar qualquer indício de que abriria os olhos outra vez.
Na manhã seguinte, o homem de cabelos loiros e com a aparência menos saudável que o normal, andava rapidamente pelos corredores silenciosos, escutava alguns ecos de longe, nunca tinha gostado de hospitais, cumprimentou rapidamente as enfermeiras se virando para dentro, assim que seus olhos passaram pela sala e focaram na pessoa deitada na cama demorou alguns segundos para perceber que havia entrado no quarto errado, se perguntou se deveria voltar, mas ao contrário, se aproximou e passou a observar os traços da garota deitada na cama, mesmo um pouco pálida, não poderia negar que ela era linda, os cabelos cacheados, o rosto fino e os lábios rosados, agra um pouco pálidos, perfeitamente desenhados em um contorno de coração, parecia um anjo dormindo, se não fosse pelos fios e máquinas a sua volta. Ele se sentia confortável, então se sentou na poltrona do lado da cama, ficou longos minutos em silêncio, até começar a falar, contou sobre sua vida e de como se sentia com tudo o que passava nos últimos meses, desde o ocorrido não tinha se aberto com ninguém, passou horas ali, quando percebeu já era noite, suspirou se sentindo leve e olhou a garota que continuava imóvel, se desculpou pelo incômodo, mesmo não sabendo se ela escutava e foi embora. Não passava pela cabeça dele que desde sua entrada no quarto aquela manhã, ela prestava atenção em cada palavra que ele dizia, mesmo não conseguindo se mover, ela se sentia mal por não poder lhe dizer palavras de conforto, era a primeira vez em semanas que escutava uma voz diferente das enfermeiras, sua família não ia vê-la mais, talvez tivessem desistido dela. Por isso, naquela mesma noite ficou pensando no estranho que havia invadido seu quarto, se sentia feliz por ter alguma ideia de como as coisas estavam fora das paredes do seu quarto.
Por algum motivo desconexo, dois estranhos tiveram suas vidas cruzadas, talvez ironia do destino? Alguns não acreditam na possibilidade. Em alguns dias, dentro daqueles corredores vazios, cheios de histórias diferentes, algumas tristes e outras felizes, o brilho dos olhos castanhos da garota agora desperta surpreendia todos, milagre ou não, estavam felizes por sua repentina melhora, confusos, porém, pelo primeiro pedido ter sido ver o homem que vinha visitando seu quarto a algum tempo, dias depois pôde olhar nos olhos azuis e escuros, como um oceano tempestuoso. A rocha contém o oceano descontrolado durante as tempestades e mesmo que a rocha se quebre e mude com o tempo, o oceano sempre estará ali, lembrando-a de que nunca a deixará só.
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